Símbolo do Vale do São Francisco, Ponte Presidente Dutra completa 70 anos unindo Petrolina e Juazeiro

  • 16/06/2024
(Foto: Reprodução)
Inaugurada no dia 16 de junho de 1954, a ponte de 801 metros ligou os municípios pernambucano e baiano. Atualmente, tem fluxo de mais de 40 mil veículos por dia. Ponte Presidente Dutra 70 anos Inaugurada no dia 16 de junho de 1954, a Ponte Presidente Dutra completa 70 anos neste domingo. Ao longo de sete décadas, a ponte virou símbolo de integração entre os municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, e Juazeiro, no norte da Bahia, além de ser um dos principais pontos turísticos do Vale do São Francisco. Ponte Presidente Dutra, entre Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco Emerson Rocha /g1 Petrolina Diariamente, cerca de 40 mil veículos cruzam os 801 metros da ponte, que fica sobre o rio São Francisco e serve como trecho da BR 407. A realidade é bem distinta da que o jornalista Luiz Manoel Guimarães carrega na memória. “Carro era muito pouco. Passava o trem, que vinha de Salvador transportando passageiros e combustível, o ônibus e pouquíssimos carros. O movimento era pouco”, recorda, sobre o trânsito na via durante a década de 1960. 70 anos da Ponte Presidente Dutra Seis anos mais velho do que a Presidente Dutra, Luiz Manoel passou a ter contato com a ponte ainda na infância. Nascido na cidade de Remanso, no norte baiano, estudou em Petrolina e morou em Juazeiro. Assim como é cantado nos versos da música ‘Petrolina, Juazeiro’, de Jorge de Altinho e Chico Agra, o jornalista aposentado lembra que nos tempos de criança “achava lindo quando a ponte levantava, e o vapor passava num gostoso vai e vem”. E ele não era o único. “O cais ficava cheio de gente. O vapor apitando, a ponte parava, o trem parava, o povo parava, tudo parava”, diz a historiadora e diretora do Museu Regional do São Francisco, Rosy Costa. Portões da Ponte Presidente Dutra levantando para o vapor passar Marcel Gautherot - Instituto Moreira Salles A Construção da Ponte A ponte rodoferroviária Presidente Eurico Gaspar Dutra começou a ser planejada no final da década de 1940. O então presidente da época, que anos mais tarde viria a ter o nome eternizado no monumento, atendendo a pedidos de políticos locais, autorizou a construção da ponte. Construção da Ponte Presidente Dutra, entre Juazeiro e Petrolina Brasil Constrói (RJ) 1948-1960. Acervo da Biblioteca Nacional. “Em 48, o presidente general Eurico Gaspar Dutra fez o lançamento da ponte. Ele alegou que não só Juazeiro e Petrolina, mas o Brasil, estavam em uma nova era, investindo nas estradas rodoviárias, que eram mais rápidas e menos custoso”, afirma Rosy, destacando que antes da ponte, a navegação era o único meio disponível para transportar os produtos e as pessoas entre as duas cidades e os municípios circunvizinhos. “A navegação era bonita e tudo, mas gastava muito dinheiro e era mais lento, o trem também. Então, a rodovia era mais rápida e favorecia os interesses do governo”, destaca a historiadora. Construção da ponte Presidente Dutra, entre Juazeiro e Petrolina, na década de 1950 Brasil Constrói (RJ) 1948-1960. Acervo da Biblioteca Nacional. A obra começou em 1949 e foi executada por um consórcio entre duas empresas, a Estacas Franki Ltda, brasileira de origem belga, e a francesa Entreprises Campenon Bernard. O engenheiro francês Eugène Freyssinet foi o responsável pelo projeto. Quiz: teste seus conhecimentos sobre os 70 anos da Ponte Presidente Dutra A ponte foi a segunda no país a utilizar concreto protendido, tecnologia que utiliza volume menor de concreto, reduzindo o peso da estrutura e consegue ser implementada em terrenos mais difíceis, como um rio. O engenheiro civil Ronaldo Sodré explica os ganhos da obra com o uso do concreto protendido. “Na época, uma ponte de 800 metros era um desafio enorme. São doze vãos, oito deles com 60 metros de comprimento, seria muita coisa na época para concreto armado. Com concreto armado, para vencer um vão dessa magnitude, você precisaria ter uma altura enorme na viga. E o concreto protendido você consegue reduzir essa altura do elemento estrutural, com a mesma resistência”. Sodré também destaca os desafios enfrentados pela equipe de engenharia durante a construção da ponte. O volume do rio era um deles, que na época não contava com a barragem de Sobradinho, construída na década de 1970. “Você tinha que conviver com o rio São Francisco sem a barragem de Sobradinho ou sem muito controle de cheias". “A grande dificuldade, no meu ponto de vista, seria a movimentação desses elementos pré-moldados em um canteiro à parte, na terra, e a criação e utilização de equipamentos móveis para conseguir deslocar a peça metálica para o leito do rio, posicionar corretamente e depois içar isso tudo, então foram desafios enormes”, afirma o engenheiro, sem esquecer dos possíveis acidentes que devem ter acontecido por conta da dificuldade do projeto. Segundo Rosy, a ponte foi pensada para atender os pedestres, os carros e o trem, além de não impedir a passagem dos vapores que navegavam pelo Velho Chico. “O vapor não podia ter a chaminé mais baixa, senão a fumaça invadia o vapor, então era bem alta. Por isso se pensou nesse portão elevadiço. O portão levantava, o povo passava, o trem passava e o carro passava. Tudo isso em uma ponte só”. O portão, que é um dos símbolos da ponte, fica do lado baiano do rio. A historiadora explica que a escolha foi feita em virtude da profundidade ser maior em Juazeiro do que em Petrolina. Trecho da ponte presidente Dutra caiu durante a obra, em 1952 Reprodução Durante cinco anos, a construção da ponte mexeu com a rotina das duas cidades. As peças eram montadas nas margens e depois eram levadas para o rio. “Não tinha como fazer dentro do rio. Tanto é que do lado de Petrolina, em 1952, caiu. Erraram no cálculo e quando botou a viga de cimento, caiu”, lembra Rosy. Inaugurada pelo povo O incidente de 1952 não impediu que a obra ficasse pronta. No entanto, segundo Rosy, a ponte entregue em 1954 não atendia ao projeto inicial. Rosy culpa o “sumiço do dinheiro da obra” como fator principal para que a execução não tenha ficado como o previsto. Moradores de Juazeiro e Petrolina, no dia da inauguração da ponte Presidente Dutra, em 1954 Reprodução “ A ponte era para ficar como é hoje. Em 54, quando entregaram, a ponte não tinha os trilhos, nem os dormentes, entregaram no grosso, e sem a ponte levantar, o portão elevadiço”. O portão só começou a levantar em 1956. O primeiro trem, que vinha de Salvador, só passou a cruzar a ponte com destino a Petrolina, em 1959. Com tantos problemas, a inauguração da ponte em 1954 não teve festa política nem a presença de grandes autoridades. “Acabou o dinheiro. Quem inaugurou foi o prefeito de Juazeiro (Edson Ribeiro), o prefeito de Petrolina (José Almeida da Silva) e um juiz. Disseram que os engenheiros tinham ido embora, então eles inauguraram. Quem inaugurou foi o povo”, afirma Rosy. Ligando o Vale do São Francisco ao Brasil Desde a inauguração, a ponte Presidente Dutra virou o principal elo entre Juazeiro e Petrolina com o restante do país. O jornalista Luiz Manoel recorda das viagens que fazia na infância acompanhando o tio, que era comerciante, para levar as mercadorias de Juazeiro para Remanso. Antes da ponte, o percurso de 213 km, que hoje dura cerca de duas horas, era feito em mais de um dia, no balanço do rio. “Você comprava em Salvador, chegava aqui e botava em umas barcas chamadas Sergipana, que eram com duas velas. Levava quatro, cinco dias para chegar em Remanso, subindo o rio, quando dava sorte. Quando a ponte começou mesmo a funcionar e estava toda pronta, você não tinha mais esse problema”, afirma. Ponte Presidente Dutra, entre Juazeiro e Petrolina Emerson Rocha /g1 Petrolina Entre o final dos anos 50 e durante as décadas de 1960 e 1970, a ponte fez a transição do transporte a vapor para o rodoviário. Com a construção da barragem de Sobradinho, em 1982, os grandes vapores deixaram de navegar, assim como o portão da ponte, que deixou de levantar. No mesmo período, o movimento dos trens foi perdendo força, até deixar de existir. Hoje, a ponte atende o fluxo de veículos e pedestres. Carros e caminhões levam para outras partes do Brasil as riquezas que são produzidas no Vale do São Francisco, principalmente as geradas pela fruticultura. A ponte também é caminho dos visitantes e pessoas que escolhem Juazeiro e Petrolina para viver. Mecanismo importante para a rotina das duas cidades, a ponte Presidente Dutra costuma ser ponto de protestos e manifestações realizadas pelos moradores dos dois municípios, que juntos somam mais de 620 habitantes, de acordo com dados do último censo feito pelo IBGE. Petrolina tem 386.786 pessoas e Juazeiro, 235.816 moradores. Duplicação da ponte Liberação do trânsito na Ponte Presidente Dutra, em 2011 Com fluxo crescente a cada ano, a ponte precisou ser ampliada. Reportagem do Jornal A Tarde de 2008 mostra que “os primeiros trabalhos de reforma foram iniciados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) no final de 2002, com interrupção por falta de verba em 2003”. Em 2011, a duplicação do lado petrolinense foi finalmente entregue (veja no vídeo acima). No entanto, o lado de Juazeiro permaneceu do mesmo jeito, o que gerou o apelido de “ponte picolé”. Durante reunião ministerial no dia 10 de março de 2023, o presidente Lula lembrou o apelido e anunciou que o lado juazeirense também seria duplicado. Durante a duplicação do lado de Petrolina da ponte, as barquinhas ajudaram a manter o fluxo de pessoas entre as duas cidades Emerson Rocha /g1 Petrolina “Olha, a ponte entre Petrolina e Juazeiro é chamada a “ponte picolé”. Quando nós terminamos a parte de Petrolina, o povo de Juazeiro se não combinou com o prefeito e não aceitou o acesso. Aí a ponte parou e ficou que nem um sorvete de picolé mesmo, um palito. Um lado dessa largura, outro lado dessa largura e está até hoje. Ou seja, nós vamos ter que terminar esse picolé. Já que não dá para chupar o lado que está pronto, vamos fazer o lado que falta”, disse o presidente. As obras na extensão da ponte do lado de Juazeiro começaram em 2023. Através de nota, o DNIT informou que os trabalhos devem ser concluídos em 2025. “O DNIT informa que a duplicação da ponte Presidente Dutra, entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), deve ser totalmente concluída em julho de 2025, quando o segmento baiano será finalizado. Destaca-se que o trecho de Pernambuco já foi finalizado. Até o momento já foram investidos nos serviços remanescentes da duplicação da ponte aproximadamente R$38 milhões. Quando concluídos os serviços, a ponte passará a ter quatro pistas, totalizando 19,8 metros de largura”. Apesar da ampliação, Rosy e muitos outros moradores das duas cidades acreditam que já é necessária a construção de uma nova ponte, para comportar o fluxo crescente. No entanto, mesmo que um dia venha a ganhar companhia, a Presidente Dutra terá sempre um lugar especial nos corações dos juazeirenses e petrolinenses nascidos ou que escolheram as duas cidades para viver. “A ponte foi o elo entre Petrolina, Juazeiro e outras cidades. Foi uma bênção de Deus, foi um progresso para as duas cidades”, diz a historiadora, completando. Ponte Presidente Dutra, entre Petrolina e Juazeiro Emerson Rocha /g1 Petrolina “Ela é o marco das cidades. Quando você faz dois pauzinhos aqui, passa um traço, e bota dois pauzinhos aqui, todo mundo já sabe que é a ponte Presidente Dutra, que é a cara de Juazeiro e Petrolina”.

FONTE: https://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2024/06/16/simbolo-do-vale-do-sao-francisco-ponte-presidente-dutra-completa-70-anos-unindo-petrolina-e-juazeiro.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Daqui pra sempre

Manu batidão e Simone mendes

top2
2. Dois fugitivos

Simone mendes

top3
3. Lauana padro

Me leva pra casa

top4
4. A Maior saudade

Henrique e Juliano

top5
5. Já deu Certo

Zé Vaqueiro

Anunciantes